Caminhar
pelas estações do metrô de São Paulo é qualquer coisa parecida com mergulhar em
um mundo paralelo. Todos os dias, eu subo e desço as escadas da Consolação. Certas
vezes pela rolante, ou, quando a pressa me obriga, corro as escadas que não se
movem, mas que estáticas e rígidas, nos impõe o trabalho pesado de simplesmente
subir as pernas e alcançar mais um degrau.
O
mais engraçado nesse vai e vem de pessoas é notar como cada uma delas, nesse
curto espaço de tempo entre a subida e a descida da escada, nos são parecidas e
ao mesmo tempo completamente diferentes. Quando desço as escadas, sempre pela
manhã, a cara amassada da maioria delas (e a minha) me impede de prestar muita
atenção aos gestos e expressões. Na volta, quando subo as escadas, geralmente a
rolante, porque convenhamos no final do dia o que mais precisamos é de uma
máquina que faça o trabalho pesado pelos nossos pés!
Ao
subir a escada rolante me transporto para um mundo novo. Subindo cruzo com a
escada que desce e posso, nesse instante, reparar em cada rosto, gesto,
sorriso, olhar de quem está indo ao encontro do velho trem.
Ali
vem a senhora com a roupa fina e o nariz empinado, logo atrás o casal de
namorados, onde um sempre desafia a gravidade descendo de costas simplesmente
para ficar mais alguns segundos observando o ser amado. Mais acima, a menina
que vem se equilibrando com seu pequeno espelho enquanto retoca o batom
vermelho. Mais abaixo, a criança que ignora veementemente as ordens da mãe e
fica subindo e descendo ao contrário. Ao longe, avisto o belo rapaz de cabelos
lisos, ele me olha, mas eu desvio. Lá no topo a senhora hesitante, não sabe
qual pé coloca primeiro e na dúvida dá um pulinho se agarrando ao corrimão
oscilante e me tira um sorriso. Lá vem mais um adolescente que desce sem nem
ver, um olho no celular outro no mp3.
E
eu estou ali, subindo e observando o constante vai e vem. Aquele pequeno
intervalo de tempo entre o chão e o topo. Todos aqueles rostos, todas aquelas
vidas. Elas que me ignoram e nem ao menos sabem que me intrigam.
Há
dias em que a cabeça pesa, e no caminho até a escada vou mastigando meu dia a
dia, chutando as pedrinhas imaginárias dos meus problemas. Às vezes venho
conversando, mexendo no celular, rindo, cantando. Mas me deparo com a escada. Noto
que cada degrau que vai subindo lentamente me faz um convite para arriscar mais
uma subida. Paro e hesito, assim como a velha senhora, e dou o primeiro passo.
E lá estou eu novamente, cruzando vidas em rostos, em busca de acolhida.