Reconheço
todos os rostos que vejo na rua. Parece que cada um deles me foi apresentado em
algum momento dessa vida. Talvez ontem, talvez hoje, ou no passado. Reconheço
todas as faces, os olhares. Alguns me encaram como se também me reconhecessem,
outros disfarçam, alguns nem notam.
Cruzo
cada rosto na rua, no transporte, no trabalho, na mesa de bar, no reflexo de
algum espelho, vitrine, vidro. Todos os rostos me são familiares. Talvez você
espere que eu relate o que neles me atrai, mas não, apenas me sinto próxima.
Sei que boa parte nunca ouvirá meu nome, escutará minha voz, ou me retribuirá
um sorriso, uma gentileza. Apenas os observo, assim como prevejo o passar dos
carros na grande avenida.
Um
olhar é sempre único, uma desviada de cabeça é sempre única. Aquele que
disfarça, ou aquele que corresponde, nenhum deles é igual. Nunca fui muito de
encarar uma pessoa nos olhos por muito tempo, sempre perdi essa brincadeira na
infância. Fixar um olhar pode te desnudar por completo. Mas quando fixo o olhar
em um rosto desconhecido é como se para ele eu pudesse olhar fixamente. Sem
piscar, sem pestanejar, mostrar que eu o reconheço. Simples, complexo, calmo,
conturbado, sincero. Dessa forma os reconheço.
Todos
os rostos que me são familiares são aqueles que me tornam uma incógnita para
quem me conhece. Desnudam-me pelo simples fato de nem saberem meu nome, mas que
me encararem fixamente no olhar. Sem deixar entreaberta a janela das aparências.
Essa sou eu, esse é você. É por isso que os reconheço. É por isso que me são
familiares.