Esse
é um texto escrito com raiva. Não pelas palavras, mas pelo momento no qual
estou escrevendo. Escrevo esse texto sob o efeito das piores sensações que já
senti pelo ser humano: fúria e indignação. Não, não espere que eu lhe de o
motivo, nem o causador de tal mal, pois não consigo reproduzir ato tão absurdo,
nem falado, nem escrito. Usar do poder e da magia das palavras para reproduzir
tal infâmia seria desonesto com o poder de cura que elas exercem sobre mim.
Esse
é um texto que se tivesse gosto seria o mais amargo que você possa imaginar.
Aquele gosto de cabo de guarda-chuva que você sente quando o mundo despenca.
Meu mundo não despencou, mas uma boa parcela da esperança que eu tinha nele
sim, talvez a mais bonita delas, a fé na humanidade. Este é um texto que se
encaixa em qualquer momento em que você precise ocupar um espaço, porque, mesmo
coberto de lacunas é melhor do que vê-lo em branco. Branca é a cor da paz que
eu não sinto nesse momento.
Este
é um texto escrito sob uma chuva de lágrimas. Frias e ao mesmo tempo quentes.
Lágrimas de indignação, dor, raiva, vergonha. Esse é um texto que está sendo
escrito, porque preciso manter minhas mãos ocupadas para não socar a parede,
pois mesmo com todo o mal, prefiro a violência das palavras.
Esse
é um texto que bem poderia conter uma porção de palavras de baixo escalão, mas
já proferi todas elas através da fala. Deixo a escrita para que me acalme o
coração e a alma. Não por agora, mas que me mantenha ao menos parada, pois
rodar em círculos só me causou dor de cabeça.
Essas
são palavras que escrevo com a minha cara mais enfurecida, com meu rosto já
inchado de tanto chorar. Escrevo para deixar registrado que a crueldade do ser
humano me revolta, em todos os seus aspectos. Mas contra os indefesos, ela me
deixa possessa.
Esse
é um texto que escrevo, porque não consegui manter minha cabeça no travesseiro
e porque cavar um buraco no assoalho e me enterrar só me faria ter mais
despesas do que consolo. E o consolo que encontro aqui, nem o mais acolhedor
abraço pode me dar.
Esse
texto é uma prece, pois peço perdão a quem quer que esteja me ouvindo por algo
que não fiz, mas que tenho vergonha de saber que alguém fez. Esse é um pedido
de socorro, porque preciso acordar desse pesadelo. Quem quer que seja que está
aí, acenda a luz, pois desse escuro eu quero sair.
Esse
texto é uma terapia, desenvolvida em doses homeopáticas de consoantes e vocais.
Essas são palavras sobre um desespero, calculado pela raiva e por vezes pelo
desprezo. Mas, principalmente pela impotência da minha distância e da de quem
esteve presente.
No
ardor desses maus sentimentos, busco aqui, folha em branco, o que ninguém pode
me dar. Paz.