Carmo Dalla Vecchia
Haja o que houver sempre colocou na cabeça que criar ilusões sobre as pessoas que criava em sua mente não passaria de mais um degrau que construiria em sua vida e que ao fim de uma jornada sempre o derrubava lentamente, rolando em cima de demônios chamados expectativas. Essa era uma lição que pretendia levar adiante dessa vez, mas no fundo sabia que iria construir novamente uma escada, esperando terminar de escalar os degraus sem tombar, ou ao menos sabendo dosar os passos. Um de cada vez, lentos, nunca atropelados.
Não adiantava mudar muito, mesmo se tornando sombrio e frio, nunca deixará de ser persistente e acreditava que cada nova escada de expectativas que montava para as pessoas de sua vida um dia deixasse-o chegar ao topo. Distante e simples. Como diria sua voz interior (que tinha rosto e não era o seu), o mais importante não é deixar de viver sob o que criamos das pessoas do nosso convívio, mas lembrar-se sempre que o que criamos nunca deve superar a realidade. Ria toda vez que lembrava como ela dizia isso, com os pés sobre a mesa da sala, a preferida e nunca desorganizada. Era a única que permitia ser superior aos objetos daquela mesa. "As pessoas são de carne, mas no fundo todos somos de plástico, feitos de bolhas que cada um estoura como pode", falava enquanto mordia uma maça roubada da cozinha. Divagava encantadoramente.
Pensava sempre que no fundo era mais ou menos isso, mais para mais do que para menos. Confuso jeito doce de encantar o rude dono da mesinha da sala endeusada. Era uma bolha que estourava por dia, mas uma nova que se formava em torno da sua voz interior preferida.
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