quarta-feira, novembro 07, 2012

Eu finjo ter paciência



"Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência
E o mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência"

segunda-feira, outubro 22, 2012

Imensas frases feitas de mar

                                                                      Foto: Heduardo Kiesse

O dia em que a imensidão virar mar eu vou mergulhar como sempre sonhei. Flutuar pelas marolas das frases que o permeiam. Me guiar pelas estrelas de cada novo paragrafo. E ele vai além daquilo que as letras delimitam, ele um dia vai virar imagem. Imensas quanto meu sonho de dividi-las com todos.
O dia em que o imensidão virar mar está por vir, pode ser daqui um pouco, ou daqui um tempo. Vai deixar de ser devaneio e vai permitir que as ondas que o empurram de volta para a praia, sejam as ondas que o levarão para o seu real imenso.
O dia que a imensidão virar mar, vai ser noite. E salpicarão estrelas reais, ancoradas nos desenhos toscos feitos em uma folha  mal rabiscada em uma tarde qualquer.

segunda-feira, outubro 15, 2012

Pedras de Paulo

                                           Foto: Heduardo Kiesse

Decorei os pisos do quintal de casa. Essas são as últimas coisas que me lembro antes de sair de casa, de  cabeça baixa em direção ao sol. Era dia de chuva e não fitar o chão era como arriscar levar um tombo, mas também permanecer em pé sem se preocupar com os escorregões. Quem nunca cai, também não sabe o que é levantar. 
Eram quase três da tarde, horário atípico para começar algo novo, o mundo me acostumou a dizer que tudo que começa bem tem que ser pela manhã, antes do raiar do sol, dos primeiros cantos dos pássaros. Mas nem sempre o que o mundo me diz eu pretendo escolher. Sem nexo. Segui sem guarda-chuva pela garoa fina da tarde, contando os passos e as falhas em cada piso saí, portão a fora, atrás daquilo que um dia nunca soube o que seria, mas que um belo dia resolvi encontrar. E acordei com a sensação de que já sabia o que queria. 
Pelo caminho os movimentos habituais do dia a dia do mundo e eu ali na janela lateral de um carro alugado. Era sexta-feira véspera de feriado, um feriado que só seria na segunda, mas que sempre começa na sexta. Ao parar em uma avenida movimentada observei na parede desenhada, pichada, chorada, declamada por um poeta urbano uma frase. Sempre acreditei que aqueles que usam dos espaços que são costumeiros ao nosso olhar para se expressar são donos de tudo aquilo que eles puderem criar. O trecho era 'I'll keep singing my song'. E fazia todo o sentido naquele momento de decisão que eu estava passando. Nunca ouse duvidar do poder que uma frase pode exercer sobre você, mesmo escrita por outro, ela pode despertar.
Aquela letra escrita as pressas, sem cuidado, coberta do descompasso que carregava, pode ter sido o primeiro despertar. 
As letras que me acuso a viver são hoje os reflexos de uma frase de parede meia boca que deixei em uma avenida sem pisos molhados, trincados, ou escorregadios. Foi quando deixei de sentir medo em cada passo que comecei a chutar as pedras que impediam meu novo caminho.



quarta-feira, setembro 12, 2012

Art de coração



Eu consumo arte como se fossem balas. Preciso a cada segundo de um som, um sorriso teatral, um gesto dramático, algumas frases soltas. Em minha estante de palácios reservo a cada imagem um pedestal em que permeia a arte.
Visto de leves horizontes minhas necessidades, sentada em um canto estratégico da sala onde posso respirar e pensar aos olhos da imensa janela. Eu preciso de vento e flores, perto ou longe. Perto o quanto for tocável pelos sonhos, longe o quanto eu nunca possa alcançá-los por inteiro. Vivo em um imenso catavento de ilusões e planos, mas vivo sempre de arte. Descobri que meus bloqueios são sensações que nunca experimentei, todas breves.
Eis que me exponho como as páginas do livro que leio, serena, no metro. A doce voz ao meu redor me envolvendo em bucólicas lembranças da minha infância perto da natureza, do mar dos meus fins de semana. Eis uma breve descrição dos meus sinais.
Escrever em primeira pessoa é saber que a arte te expõe por completo. Quanto a escrever por meio da voz de outros é vestir-se de inúmeras capas que podem nos levar a qualquer lugar, circunstâncias novas. Não julgo nenhuma opção, sou adepta das trocas e mudanças que a folha em branco nos propõe. As brancas, bege e belas, brancas amareladas folhas, digitais ou não. Eis as gavetas dos papéis e textos dispersos com a letra feia mais caprichada que existe.
Viver de arte é um oficio momentâneo, procuro encontrar sua resolução máxima. Desacredito naquilo que não posso acreditar, ou seja em nada que não tenha arte. E prevejo que não há nada que não possa ser vista com um pequeno detalhe dela. Reinvenção de linhas, gestos, sonhos. Meu lema, minha fé. Amor.
As palavras, as vozes, a arte, me confortam. Escrevo ao rodapé aquilo que nunca gritei.

quinta-feira, agosto 30, 2012

Bolhas de expectativas

                                                                    Carmo Dalla Vecchia

Haja o que houver sempre colocou na cabeça que criar ilusões sobre as pessoas que criava em sua mente não passaria de mais um degrau que construiria em sua vida e que ao fim de uma jornada sempre o derrubava lentamente, rolando em cima de demônios chamados expectativas. Essa era uma lição que pretendia levar adiante dessa vez, mas no fundo sabia que iria construir novamente uma escada, esperando terminar de escalar os degraus sem tombar, ou ao menos sabendo dosar os passos. Um de cada vez, lentos, nunca atropelados.
Não adiantava mudar muito, mesmo se tornando sombrio e frio, nunca deixará de ser persistente e acreditava que cada nova escada de expectativas que montava para as pessoas de sua vida um dia deixasse-o chegar ao topo. Distante e simples. Como diria sua voz interior (que tinha rosto e não era o seu), o mais importante não é deixar de viver sob o que criamos das pessoas do nosso convívio, mas lembrar-se sempre que o que criamos nunca deve superar a realidade. Ria toda vez que lembrava como ela dizia isso, com os pés sobre a mesa da sala, a preferida e nunca desorganizada. Era a única que permitia ser superior aos  objetos daquela mesa. "As pessoas são de carne, mas no fundo todos somos de plástico, feitos de bolhas que cada um estoura como pode", falava enquanto mordia uma maça roubada da cozinha. Divagava encantadoramente.
Pensava sempre que no fundo era mais ou menos isso, mais para mais do que para menos. Confuso jeito doce de encantar o rude dono da mesinha da sala endeusada. Era uma bolha que estourava por dia, mas uma nova que se formava em torno da sua voz interior preferida.

terça-feira, agosto 28, 2012

A dimensão da imensidão

                                                                             Erom Cordeiro

Estava lendo esse texto ontem, justamente no momento em que mais precisava ler algo assim. E sempre existe uma luz onde podemos nos orientar procurando por nós. 
Faz tanto sentido que espero que a mensagem que as vezes não saem por mim encontrem aqueles a quem eu destino através das letras de quem me entende por inteiro. 


"A dimensão do profundo: o espírito e a espiritualidade


O ser humano não possui apenas exterioridade que é sua expressão corporal. Nem só interioriadade que é seu universo psíquico interior. Ele vem dotado também de profundidade que é sua dimensão espiritual.
O espírito não é uma parte do ser humano ao lado de outras. É  o ser humano inteiro que por sua consciência se percebe partencendo ao Todo e como porção integrante dele. Pelo espírito temos a capacidade de ir além das meras aparências, do que vemos, escutamos, pensamos e amamos.  Podemos apreender o outro lado das coisas, o seu profundo.  As coisas não são apenas ‘coisas’. O espírito capta nelas símbolos e metáforas de uma outra realidade, presente nelas mas que não está circunscrita a elas, pois as desborda por todos os lados. Elas recordam, apontam e remetem à outra dimensão a que  chamamos de profundidade.
Assim, uma montanha não é apenas uma montanha.  Pelo fato de ser montanha, transmite o sentido da majestade.  O mar evoca a grandiosidade, o céu estrelado, a imensidão, os vincos profundos do rosto de um ancião, à dura luta  da vida e os olhos brilhantes de uma criança, o mistério da vida.
É próprio do ser humano, portador de espírito, perceber valores e significados e não apenas elencar fatos e ações.  Com efeito, o que realmente conta para as pessoas, não são tanto as coisas que lhes acontecem mas o que elas significam para suas vidas e que tipo de experiências marcantes lhes proporcionaram.
Tudo que acontece carrega, existencialmente, um caráter simbólico, ou podemos dizer até sacramental. Já observava finamente Goethe: "tudo o que é passageiro não é senão  um sinal”(Alles Vergängliche ist nur ein Zeichen”). É da natureza do sinal-sacramento tornar presente um sentido maior, transcendente, realizá-lo na pessoa e faze-lo objeto de experiência. Neste sentido, todo evento nos relembra aquilo que vivenciamos e nutre nossa profundidade, vale dizer, nossa espiritualidade.
É por isso que enchemos nossos lares com fotos e objetos amados de nossos pais, avós, familiares e amigos; de todos aqueles que entram em nossas vidas e que tem significado para nós.  Pode ser a última camisa usada pelo pai que morreu de um enfarte fulminante com apenas 54 anos, o pente de madeira da avó querida que faleceu já há anos ou a folha seca dentro de um livro, enviada pelo namorado cheio de saudades. Estas coisas não são apenas objetos;  são sacramentos que nos falam para o nosso profundo, nos lembram pessoas amadas ou acontecimentos significativos para nossas vidas
O espírito nos permite fazer uma experiência de não-dualidade, tão bem descrita pelo zenbudismo. “Você é o mundo, é o todo” dizem os Upanishads  da Índia enquanto o guru aponta para o universo.  Ou “Você é tudo” como muitos yogis dizem.  O Reino de Deus (Malkuta d’Alaha ou ‘os Princípios Guias do Todo) estão dentro de vós” proclamou Jesus.  Estas afirmações nos remetem a uma experiência viva ao invés de uma simples doutrina.
A experiência de base é que estamos ligados e religados (a raiz da palavra ‘religião’) uns aos outros e todos com a Fonte Originária.  Um fio de energia, de vida e de sentido passa por todos os seres tornando-os um cosmos ao invés de caos, uma sinfonia ao invés de cacofonia. Blaise Pascal que além de genial matemático era também místico, disse incisivamente; “é o coração que sente Deus, não a razão” (Pensées, frag. 277).  Este tipo de experiência transfigura tudo.  Tudo se torna permeado de veneração e unção.
As religiões vivem desta experiência espiritual. Elas são posteriores a ela. Articulam-na em doutrinas, ritos, celebrações e caminhos éticos e espirituais.  Sua função primordial é criar e oferecer as condições necessárias para permitir a todas as pessoas e comunidades de mergulharem na realidade divina e atingir uma experiência pessoal do Espírito Criador. Infelizmente muitas delas se tornaram doentes de fundamentalismo e de doutrinalismo que dificultam a experiência espiritual.
Esta experiência, precisamente por ser experiência e não doutrina, irradia serenidade e profunda paz, acompanhada pela ausência do medo.  Sentimo-nos amados, abraçados e acolhidos pelo Seio Divino.  O que nos  acontece, acontece no seu amor.  Mesmo a morte não nos mete medo; é assumida como parte da vida, como o grande momento alquímico da transformação que nos permite estar verdadeiramente no Todo, no coração de Deus. Precisamos passar pela morte para viver mais e melhor."
Leonardo Boff 

quinta-feira, agosto 09, 2012

Um eu.



Reunindo os poetas interiores percebo que crio conversas que preciso ouvir e que quero dizer as pessoas projetando-as como locutoras. É primoroso sentir que as respostas que nunca vem são sempre as mais sentidas. Conversar com alguém em pensamento esperando que a resposta um dia venha na vida real é produzir ilusões momentâneas, aquelas que precisamos para viver.
Os de sempre são os mesmos e isso nunca muda, talvez entorte um pouco, mas nunca saem do mesmo. E essa é a melhor relação que criamos com as pessoas, sentir, ouvir e projetar conversas ditas por nós em nossa mente procurando um dia encontrar a resposta nelas.

sexta-feira, julho 13, 2012

Traços e descompassos


Eis que a coisa mais importante do momento é a despreocupação de olhar para a folha em branco e não pensar na fonte ideal, no espaçamento, no parágrafo. Coisas do cotidiano que nos limitam de uma forma ou outra.
Escrever livremente na fonte que for como naquela em que você passou a sua infância querendo utilizar, mas nunca poderia entregar em um trabalho da escola. O papel livre de denominações e pontuações recorrentes, os emails pendentes, o que devo ou não devo receber do programador desse mês. A arte de usar o branco em favor da própria arte. É essa limitação que eu busco e ouso dizer que ainda não me senti a vontade para conquistar. E é esse o espaço que está faltando.
Quase tudo hoje em dia não faz o menor sentido, a coluna preferida no jornal, seu político ideal, seu amor idealizado, seu prato de comida favorito, seu horóscopo que parece tratar de qualquer um, menos de você. A vida e suas incongruências. Até as palavras difíceis parecem fazer mais sentido do que o mundo ao seu redor.
O livro que você estava amando ler destrói no final o personagem principal e toda a ideia que você criara do herói. Talvez esse seja o ponto em questão: é com os não fazeres da vida que os heróis descem do salto. E pensar que o autor terminou a história com o personagem central montado em seu cavalo em busca do seu sonho idealizado. Ah a vida, as linhas, as páginas, os brancos, os lápis. E sem pensar já corrigi a fonte, o parágrafo, o espaçamento. O inconfundível vicio de ser sempre formal.

terça-feira, junho 19, 2012

Um faz de conta às escuras



Era sempre dia no faz de conta da noite. Dias sem fim, pequenos penhascos contraditórios. O horizonte nem sempre reservava algo de positivo, mas ela sempre esperava sua hora de reinar. E mesmo quando essa hora chegava, lenta, ás vezes cinza, cheia de nuvens que a escondiam, parecia sempre distante. 
Segunda, terça, quarta...A noite nunca tem tanta importância nos dias de feira, talvez só a sexta proporcione alguma importância a ela. Os fins de semana reuniam alguns destaques, mas era só algum pingo metido resolver cair que lá vai ela de novo se recolher ao primeiro reclame. E há quem diga que é de noites que os dias são feitos. 
Os pontos luminosos que alguns chamam de estrelas, respingos de luz, pontinhos coloridos, brilho no breu, o que for, estão sempre lá, são companheiros da noite, os únicos que são tão escondidos quanto a mesma. O faz de conta da noite é lembrar-se que o dia é sempre bem-vindo e que quando ela chega para reinar tem sempre uma meia dúzia para observar. E dizem que às escuras é que as coisas se revelam.
Não importa quanto alguns lhe deem atenção, a noite sempre vai viver em seu faz de conta, no qual o dia  será sempre obscuro para ela. Teime quanto for, é sempre dia no dia a dia da noite.

domingo, junho 17, 2012

Vida pré-fabricada



É chegada a hora de trocar as datas, inverter os papéis, remodelar aquilo que nunca pensou se mover. Adaptar-se. O corpo já se posiciona diferente quando essa palavra salta aos olhos. É sempre tão mais fácil se manter no lugar mesmo que o mundo gire no sentido contrário. Imersão em pensamentos longos, distraídos, rememorando aquilo que será perdido quando você se adaptar ao novo. Esse mesmo novo nem tão novo assim.
Fácil mesmo é quando tudo é remodelado com o tempo e as mudanças nem são sentidas, mas ser fácil não é o passatempo preferido da vida. Como diria o sábio "tudo é uma questão de encaixe" e ele estava se referindo a uma ou duas peças que faltavam no quebra-cabeça. Doce peças que nem sempre são encaixáveis, precisam ser reconstruídas. Reconstrução, ato de remontar, reorganizar algo pré-existente que não funciona mais, eis a peça da adaptação. E há quem diga que ela não existe, só mais um jeito de esconder tudo em baixo do tapete e esperar que alguém encontre e termine o que nunca nem começou.
Desvendam-se os segredos, as angústias, as lágrimas, mas nada pode ser mais doloroso do que se adaptar ao adaptado, ou aquilo que você achou que já estava encaixado. Limpe as peças, retire a poeira. Mesmo aqueles peões que são sempre iguais no tabuleiro podem revelar um novo caminho para o jogo. 
Viver de novo tudo sem enxergar que aquilo que parece estático pode se transformar em novo é varrer as peças para debaixo do tapete. Retire o tabuleiro do armário, renove as peças e adapte uma nova forma de jogar, sabendo observar que as peças previsíveis podem revelar um novo destino. 

terça-feira, junho 05, 2012

Lá fora



Eis que se espera um pouco de tudo e mais ou menos um pouco de nada. É assim que se passa a conduzir o que se pretende quando não se acha encaixe para todos os blocos.
Pequenas frases podem fazer diferença, como pequenos dias. São tantos, já estão por terminar. Era só o que eu pedia a cada dia. Aquilo que hoje reduz, ontem foi extenso.
Era de se esperar que certos sentidos se perdessem com o tempo, mas não com tanta frequência como ultimamente vem sendo. E as pistas que vão me apresentando para guiar o caminho tão obscuro de agora são flores e cores.
Escavando essa trilha com os dedos, sujos e cansados. Está na hora de buscar explicação fora da toca.

terça-feira, maio 29, 2012

Flores

"De um pequeno degrau dourado -, entre os cordões 
de seda, os cinzentos véus de gaze, os veludos verdes 
e os discos de cristal que enegrecem como bronze 
ao sol -, vejo a digital abrir-se sobre um tapete de filigranas 
de prata, de olhos e de cabeleiras. 

Peças de ouro amarelo espalhadas sobre a ágata, pilastras 
de mogno sustentando uma cúpula de esmeraldas, 
buquês de cetim branco e de finas varas de rubis 
rodeiam a rosa d'água. 

Como um deus de enormes olhos azuis e de formas 
de neve, o mar e o céu atraem aos terraços de mármore 
a multidão das rosas fortes e jovens."


Rimbaud

domingo, maio 20, 2012

I am titanium


Algumas vezes nós apenas disfarçarmos. Aparência de um sorriso amarelo já servem como aparato para aqueles que observam por dentro. Outras vezes é só disso que precisamos, organizar aquilo que vêem de nós. Nem sempre o espelho é companheiro, para todos esses dias existem a cegueira momentânea daqueles ao nosso redor.




"You shout it loud
But I can't hear a word you say
I'm talking loud not saying much
I'm criticized but all your bullets ricochet
You shoot me down, but I get up

Cut me down
But it's you who'll have further to fall
Ghost town, haunted love
Raise your voice, sticks and stones may break my bones
I'm talking loud not saying much"


terça-feira, abril 17, 2012

Fui ali espiar pela janela para aprender a entrar pela porta da frente...



"I don't wanna be someone who walks away so easilyI'm here to stay and make the difference that I can makeOur differences they do a lot to teach us how to useThe tools and gifts we've got yeah we got a lot at stakeAnd in the end, you're still my friendAt least we didn't intendFor us to work we didn't break, we didn't burnWe had to learn how to bend without the world caving inI had to learn what I've got, and what I'm notAnd who I am"

quarta-feira, março 21, 2012

Só os anjos controlam



Queria tanto que o tempo fosse instantâneo. Tão recente que eu pudesse controlá-lo sem precisar dar uma longa volta em torno do relógio. O tempo é uma representação do homem, ele não existe por si só. Nós criamos nossas próprias dores, sempre suspeitei, mas o maior problema é que não nos preocupamos com a cura dos males que causamos.
O tempo do coração tem um representação tão distinta que suas badaladas variam conforme o intervalo que nossa mente determina, e nunca ( quase nunca) é compatível com tempo exterior. E eu me pergunto o por que?As respostas variam, você escolhe a sua.
Quando converso com meu eu noto que todas as coisas ao nosso redor e a maneira como as observamos dependem de uma perspectiva. Essa perspectiva somos nós que criamos e é ela quem avalia os pontos e as indagações que angustiam nosso ser. E como tem angústia! Perca algum tempo do seu dia conversando com você mesmo. Seus problemas e suas perspectivas vivem o tempo que é só seu, mas necessariamente passam pelo controle do tempo que criamos.
Controlar. Impossível, mas necessário. Mudar de perspectiva, trocar a posição do espelho, interpretar os reflexos do seu tempo. Alivia tanto quanto uma página em branco e uma caneta na mão. Disciplina como liberdade. Liberdade como disciplina.

sexta-feira, março 16, 2012

Branca amarelada


Era uma limpa extensão branca, detalhada e minuciosamente encaixada com azulejos também brancos. Era assim que começava a história daquele que conta seu passado sem páginas. Em cada pedaço branco, talvez nem sempre tão limpos, um pedaço de redemoinho era plantado. Uma pequena folha, um desenho, expressões, frases, fotos, figuras. 
Cada adereço implantado era colado com aquele cola mal feita furtada silenciosamente do filho do dono da mercearia da esquina, o menino colava as figuras ora com a saliva, ora com a cola. A cola nem sempre era verdadeira, todo mundo lá na escola dizia que o dono da mercearia, por tão mão de vaca, sabia quando o pote estava no fim e enchia o pobre com uma água meio branca que alguns juravam ser santa. Essa cola fazia sucesso. 
A história daquele que encaixa sua vida no livro sem notas passava pela beirada da vida do menino da cola mágica. Aquela que nunca tinha fim e vivia na barriga de muita criança ao fim de cada aula de figura e papel.
Procure deixar uma tesoura, pedaços de figuras e uma cola danada de boa perto de uma meninada na escola. Ou sai todo mundo direto para a mesa da enfermaria ou uma obra sai disso. E não entendam por obra aquilo que o dono da mercearia estava fazendo no fundo da sua loja. Era obra mesmo, daquele que você só encontra na sala da diretoria, na televisão da velha senhora rica daquele casarão.
E a cola que não tinha fim era grande protagonista das colagens da parede azulejada, meio amarelada, a dona do enredo do pedaço. Foi essa cola responsável por horas de tentativas frustada em encaixar o que precisava e não parava. A arte da cola era teimar em ser obra por si só.
Antes de mencionar o desfecho da história daquele que conta seu passado sem páginas é bom notar um certo item não mencionado ao centro da parede branca de azulejo. Um telefone com fio.
O fio é o de menos, se não levarmos em conta o limite que ele impõe ao objeto símbolo da comunicação naquele século que parece já tão distante. Limite, não estou falando daquele que o dono da mercearia impõe ao filho em relação ao tempo que ele faz colagens. O limite daquilo que expande a comunicação, o contato, mas sempre nos prende as suas condições. Talvez esse seja um ponto chave nas colagens da história sem rodapés. O telefone em si, aquele que te aproxima e te afasta foi o cenário escolhido e premeditado para ser papel central na história. O pequeno ali, sério, fixo, sem interrupções, esperando para ser discado é o propulsor de algumas palavras chamadas saudade, tristeza, alegria, sorriso e incapacidade. 
O dono da mercearia tinha um igualzinho no estabelecimento dele, mas só os clientes usavam, o dele próprio não tinha fio. Causava a velha sensação de pensar que tem poder sobre algo e não ter. Essa era a função do fio. 
E como termina a história? Ela não termina, ela se descola, a magia da cola de sucesso feita a base de água e mentiras não dura muito tempo. Ela cai lentamente sujando o branco amarelado dos azulejos e a página que nunca existiu fica marcada como fora do limite do fio. E o telefone toca. E ao levantar-se observa o dono da mercearia a fechar as portas, desligar a luz e ir correndo ao telefone, recontar as histórias que ouviu de dia em seu balcão.
O telefone toca e não é nada além do seu fio riscado mais uma imagem sem cola da parede azulejo branca amarelada.

segunda-feira, março 05, 2012

O quebra-cabeça encantado



Enquanto fechava as janelas não tirava da cabeça e da alma a sensação de estar sempre deixando algo para trás a cada partida. Tão difícil quanto fechar a janela e se privar da brisa é fechar pequenos ciclos do cotidiano. Seria mais prazeroso sentar no sofá e apenas deixar o tempo passar, mas nunca é fácil. 
Queria se afundar e dormir sem fim, mas até fechar os olhos trazia as circunstâncias em mergulhar em pensamentos e sonhos. O inconsciente assusta bem mais que a realidade. O relógio tique- taqueando na cozinha obrigava-a a conviver com as lembranças de horas atrás.
Somente quando você se rende, se conforma, se acostuma a conviver com o passado que o ciclo torna-se mais brando, o maior problema é que quando ela já afrouxava seu coração, novamente um novo ciclo começava a se fechar e toda a dor voltava. Evoluir ao pé do calendário essa era sempre sua única chance.

sábado, fevereiro 25, 2012

A fechadura e a chave


O incontrolável em buscar o desconhecido é o desespero de se sentir estático quando tudo que se busca é absolutamente o contrário. É tão difícil se deparar com o novo que quando você percebe que ele está presente ele já virou passado. A leveza das coisas em seu lugar e a constância de sentimentos e atos nos prende. Tão confortável quanto a sua cama é permanecer parado, mudo, cego.
A procura não cessa, mas nos contentamos de maneira superficial com as ilusões pescadas no rio de frustrações de nosso cotidiano. O amanhã é tão duro de alcançar que eu prefiro sentar no sofá.
Correr ao fundo e ir além é esse o próximo passo nunca dado. E esse é o próximo ato. Não adianta decorar sua vida, você precisa saber improvisar para que a peça torne-se brilhante. Os aplausos você só encontra no final.

segunda-feira, janeiro 23, 2012

Aslam vive


"E aí aconteceu uma coisa muito engraçada. As crianças não tinham ouvido falar de Aslam, mas no momento em que o castor pronunciou o nome esse nome, todos se sentiram diferentes. Talvez isso já tenha acontecido a você em sonho, quando alguém lhe diz qualquer coisa que você não entende mas que, no sonho, parece ter um profundo significado – o qual pode transformar o sonho em pesadelo ou em algo maravilhoso, tão maravilhoso que você gostaria de sonhar sempre o mesmo sonho."


Buscar sentido em coisas e detalhes em coisas que você conviveu durante boa parte da sua vida. E é assim que os significados dos seus passos e atos vão se justificando. Como um bom livro de infância que se torna um reconhecimento na sua vida adulta.

quarta-feira, janeiro 11, 2012

The Big Brother is Watching You


Assistir televisão hoje em dia é se dedicar ao poder de abstrair ou escandalizar. Está cada vez mais difícil sentar e ligar a TV no jornal do dia, isso porque a maioria deles só se preocupa com o sensacionalismo barato recorrente na mídia brasileira. É o que dá dinheiro, ibope, não é? Veja um caso, você assiste todos os dias no seu telejornal que alguém bebeu e bateu o carro e matou, feriu ou provocou alguma tragédia, mas será que você notou que quando o próprio entra no intervalo são os comerciais de cerveja ou de seguro dos bancos que mais aparecem?
Se você preferir pode pular essa parte, talvez seja mais fácil sentir vontade de beber aquele refrigerante da propaganda e gastar dinheiro bebendo aquela cerveja nova com ‘cara’ de mulher atraente. Não podemos ser hipócritas, todos fazem isso, você não foge a regra, mas a hipocrisia se difere da ignorância. Compreender o que se compra e o que se vende, em sua essência (talvez nem tão profunda), é tão necessário quanto trocar de canal na hora do horário político.
Não venho julgar estratégias de marketing ou seus gostos pessoais por canais ou cortes de cabelos das apresentadoras, venho colher pequenos toques do que percebi e aprendi. Compartilhar com as palavras. E só.
Abstrair é necessário, por isso existem filmes e novelas, porque você precisa digerir tudo que engole no noticiário lentamente sem perceber enquanto chora/ri da vida contada por personagens que muitas vezes se assemelham a sua (tirando a parte de que você não ganha na loteria, claro). E não digo que não as acompanho, gosto muito delas!
 É essa função de quem fatura com televisão e eu nem sou especialista nesse assunto, sou apenas uma espectadora assídua da mente e das telas de TV de uma geração do macarrão instantâneo. São 3 minutos e já foi.

terça-feira, janeiro 10, 2012

Devaneios de um carrossel



Inversamente proporcional a tudo que desejamos é a vontade de permanecer no lugar. São tantos planos e vontades que às vezes a janela não é tão grande, mas também pode ser pequena demais. Criamos razões e direções que nem sempre são as corretas, mas o certo e  o errado viraram tão relativos quanto a expectativa de vida de um gato hoje em dia (não mais 7 vidas). Já escrevi sobre a superficialidade do tempo em nosso cotidiano, mas é só quando o começo do ano está correndo que você percebe o quanto isso é errado, inversamente proporcional ao tempo do fim de ano é a lentidão proposta de janeiro a abril. O quão louco isso possa parecer é você mesmo quem determina.
Não faço mais divagações sobre as cores das estações ou a continuidade dos meus capítulos, pois eles estão estacionados na folha do calendário, ou em uma página perdida da minha agenda de 2011. Os dias demonstram o quanto simples e complicado são os espaços que você busca e não adianta dizer que o ócio é criativo o suficiente para suprir suas expectativas.
As notas de rodapé são as mais prazerosas quando se pretende viver uma vida de excessos. É só questão de tempo para descobrir isso. Essa sensação de querer estar em todos os cantos e ao menos sair de seu quarto é tão intensa que nem sempre um livro resolve seu problema. Encontrar a chave desse carrossel é difícil.
Mudar de posições durante a vida faz parte, só nunca mude sua visão política, porque isso seria trair sua juventude. Eu quero sentar e reler meus textos daqui 50 anos e buscar algum sentido na vida que trilhei e, se um dia achar, que pelo menos tenha sido completo e sem muitas vírgulas.