segunda-feira, outubro 22, 2012

Imensas frases feitas de mar

                                                                      Foto: Heduardo Kiesse

O dia em que a imensidão virar mar eu vou mergulhar como sempre sonhei. Flutuar pelas marolas das frases que o permeiam. Me guiar pelas estrelas de cada novo paragrafo. E ele vai além daquilo que as letras delimitam, ele um dia vai virar imagem. Imensas quanto meu sonho de dividi-las com todos.
O dia em que o imensidão virar mar está por vir, pode ser daqui um pouco, ou daqui um tempo. Vai deixar de ser devaneio e vai permitir que as ondas que o empurram de volta para a praia, sejam as ondas que o levarão para o seu real imenso.
O dia que a imensidão virar mar, vai ser noite. E salpicarão estrelas reais, ancoradas nos desenhos toscos feitos em uma folha  mal rabiscada em uma tarde qualquer.

segunda-feira, outubro 15, 2012

Pedras de Paulo

                                           Foto: Heduardo Kiesse

Decorei os pisos do quintal de casa. Essas são as últimas coisas que me lembro antes de sair de casa, de  cabeça baixa em direção ao sol. Era dia de chuva e não fitar o chão era como arriscar levar um tombo, mas também permanecer em pé sem se preocupar com os escorregões. Quem nunca cai, também não sabe o que é levantar. 
Eram quase três da tarde, horário atípico para começar algo novo, o mundo me acostumou a dizer que tudo que começa bem tem que ser pela manhã, antes do raiar do sol, dos primeiros cantos dos pássaros. Mas nem sempre o que o mundo me diz eu pretendo escolher. Sem nexo. Segui sem guarda-chuva pela garoa fina da tarde, contando os passos e as falhas em cada piso saí, portão a fora, atrás daquilo que um dia nunca soube o que seria, mas que um belo dia resolvi encontrar. E acordei com a sensação de que já sabia o que queria. 
Pelo caminho os movimentos habituais do dia a dia do mundo e eu ali na janela lateral de um carro alugado. Era sexta-feira véspera de feriado, um feriado que só seria na segunda, mas que sempre começa na sexta. Ao parar em uma avenida movimentada observei na parede desenhada, pichada, chorada, declamada por um poeta urbano uma frase. Sempre acreditei que aqueles que usam dos espaços que são costumeiros ao nosso olhar para se expressar são donos de tudo aquilo que eles puderem criar. O trecho era 'I'll keep singing my song'. E fazia todo o sentido naquele momento de decisão que eu estava passando. Nunca ouse duvidar do poder que uma frase pode exercer sobre você, mesmo escrita por outro, ela pode despertar.
Aquela letra escrita as pressas, sem cuidado, coberta do descompasso que carregava, pode ter sido o primeiro despertar. 
As letras que me acuso a viver são hoje os reflexos de uma frase de parede meia boca que deixei em uma avenida sem pisos molhados, trincados, ou escorregadios. Foi quando deixei de sentir medo em cada passo que comecei a chutar as pedras que impediam meu novo caminho.