terça-feira, novembro 25, 2014

Pensamentos do Pensar



Prendo-me em presas
lentas do Pensar.

Leves,

ligeiras,

intensas.

Feito o Pensamento

que me peguei

Pensando.

 

Penso no que se opõe

em meu tempo

a caminhar.

 

Rendo-me em crenças

e me desprendo a

Pensar.

 

Ouso um vácuo,

dois ou três minutos,

mas rendo-me ao fato

de ter de pensar a cada minuto.

terça-feira, novembro 18, 2014

20 segundos

                                                                  Charles Leval

Uma pequena crônica de um dia semi perdido

Rasgo o verso em gritos prontos. Seco, feito papel. Passo raiva feito poucos. Era para ser duplamente feliz, pois todo momento feliz só faz graça se tiver mais um para rir. 
Soco a tela, aperto sem parar a tecla. Resmungo baixo, pois todos ouvem. Aperto sem parar o celular. "Eaí? Deu? Eita! Como assim?". Apitando feito alarme a soar.
Atualizo e tento de novo, penso alto, Esse CEP tá certo? Não brinque ok, 500, Boa Viagem. Foi. E não foi.
Vinte segundos entre um clique e o fim. A dura palavra que se destaca no topo da página, não pode ser já era. Só ano que vem.
O apito vira vibração e a tela um pisca-pisca ininterrupto. E agora? Como escrever que não tinha ocorrido, o que deveria ter sido? Tristes, poucas palavras ecoadas pelas teclas de um teclado de tela. Não deu. 
E depois a frustração, jogada na cadeira. Todos ao redor sem notar. O celular sempre a apitar. E então surge a raiva, os palavrões e a tentativa sem chance de dar F5 na página travada. E lá no alto as duras letras de um dia semi perdido. 
Muitos vão chamar de drama de TPM vencida, mas não, é apenas um assopro que empurrou mais para frente um plano traçado. Mas, todo plano tem uma tecla mal sucedida, para que, lá no fim, bem perto da conclusão ela faça parte de um teclado que irá escrever o enredo final.
E surge a dúvida, os por quês, as perguntas que não foram feitas no momento da euforia do ponto anterior, pois uma parte foi concluída, a outra ficou por 20 segundos. 
Entre a raiva e a frustração surge à calma, pois ainda há chance. E de chance em chance se faz outro apito na tela menor. “Eii, calma, vai dar certo. 2015 é logo ali".


sexta-feira, novembro 14, 2014

Dois tragos, uma vida

                                                                                       Benoit Courti

Tarde de terça feira, três e quinze. O velho relógio sem pilha continua no mesmo lugar, apontando a mesma hora de ontem, antes de ontem. Estou sentado em minha velha cama, toda preenchida por furos e cinzas. Nunca tive um lençol branco, desde que Ana se foi, que durasse mais de um dia sem se tornar amarelo ou cinza. A TV em um canal aleatório, um telejornal qualquer, não sei. Pego mais um cigarro, fumo em três tragadas. Deixo-o de lado, tiro mais um.
Já são quase cinco da tarde, o dia começa a ficar sonolento pela janela. Eu começo mais um maço. Não sei mais se é o quarto ou o quinto. Calculo meu tempo pela quantidade de bitucas espalhadas pelo chão.
Desde que me aposentei e Ana partiu, não passo um só dia sem fumar. Cada tragada traz um pouco da vida que vivi, ou acho que vivi. Nem me lembro mais. Ana sempre dizia, com sua doce cara raivosa, “meu velho tire esse cigarro da boca, isso vai te matar um dia”. Mas ela foi primeiro e não fumava.
Já são oito horas, fumo meu último cigarro, tomo meu primeiro e último gole desse whisky barato que guardo na gaveta. Limpo as bitucas da cama, me preparo para mais uma tragada. Fecho os olhos e espero mais um dia, o último. Solto levemente a fumaça da certeza de minha decisão, a mesma que corrói e me traz mais para dentro da última tragada da minha vida.

quinta-feira, novembro 06, 2014

O aroma do vapor

O breve pesar da cadeira de balanço
vai o vento,
vem o encanto.

Sorriso, calmo
canto de rosto.
A velha casa em contornos
vai o tempo, 
vem teu rosto.

Em seu tique taquear de dedos
cruza um jeito
vem de encontro.

Sobre a mesa
medos, sorrisos,
lembranças.

A chaleira esfumaçante,
vem o vento,
traz vapor.

Olhos calmos, rasos.
Um vem e vai
de espaços,
cheiros
e sabor.