sábado, abril 23, 2016

Crônica de um dia feliz



Dias felizes começam com choro. Com lágrimas que caem sem motivo aparente, sem sentido comum. Pareciam lágrimas de uma derrota eminente. Não foram. Parecia premonição para o resto do dia.
As lágrimas eram de realidade, da vida dura que bate a porta da maioridade. Porém, o doce encanto do sonho ainda percorre uma cabeça que sempre viveu rodeada de nuvens.
E não demorou muito para elas aparecerem. O melhor despertar é o despertar e ver um bocado de letras que formam as já duas costumeiras palavras que unidas formam o nome. E quase sempre esse emaranhado de letras que tentam se juntar na visão meio embaçada pelo despertar, meio míope pela condição genética, trazem consigo o primeiro esboço de um sorriso.
O dia se percorre quase lento, vem os planos, as rotas de dias futuros, as esperanças de momentos marcantes, os esboços de fotografias que nem se tornaram reais ainda. E com isso vem outro sorriso.
A burocracia entra em campo e faz recordar sobre a realidade que a maioridade impõe, mas algumas vezes ela é positiva. E lá vem o terceiro sorriso.
Com a tarde quente, vem as conversas engraçadas da vida no campo, uma avó seminua gargalha com o susto que tomara a instantes . E lá se vem a primeira gargalhada.
A volta pra casa, as pernas para o ar, retorno atenção ao que toma meu ar, ao plano de outrora ao futuro de agora. A vitória eminente de ver o sorriso estampado no rosto de quem está longe, mas perto o bastante para ser sentido mesmo distante. Lá se vem a segunda gargalhada.
No resto do dia, o fim de tarde, o céu troca de cor, do azul vem o amarelado, o laranja e o rosado. A lua reina no céu estrelado. E nem a figura vista em tela de alguém que ressurge e talvez te leve, mas que nunca saberá o que pode tornar teu sorriso mais leve. E lá se vem a certeza de que a realidade amadureceu, mas que não se escondeu.
A noite tranquila traz o som da saudade, aproxima de novo uma bela amizade que uma distância, bem boba, quase criança, separou por um tempo. E lá se vem o sincero sorriso de alívio.
O dia se acaba e vem quase em graça. Cabeça refeita, travesseiro macio, sem peso nas pernas, costas. O dia termina em um breve sorriso. O sono mansinho se achega quietinho, me pega serena, cabeça em nuvens. Durmo sorrindo.

domingo, abril 10, 2016

Saudades de mim



Andei recolhendo inúmeras saudades. De tempos de outrora, de dias lá fora.
Saudades dos repentes que eu fazia na mente, dos caminhos de chão batido que eu pensava em trilhar.Dos livros esquecidos em cada sebo que prometi voltar. Saudades das inúmeras mesas de bar que deixei conversas picadas, dos planos mirabolantes das conversas de rodas de calçada.
Dos tempos em que havia tempo para ver um sarau. Para recitar poesia na casa do Andrade, o Mário.
Saudades de uma essência distante que deixei escapar por muitos instantes.
Saudades de ter tempo para ser somente o que bastava em mim.
Saudades de pertencer só a mim e aos meus sonhos meticulosamente mirabolantes, mas que me resumiam em tudo.
Saudades de ser quem eu sou.