domingo, janeiro 24, 2016

Peito aberto

                                                                   Foto: Miguel Solano




Era um moço doce,
doce feito o céu.
Olhos castanhos,
enrolado, 
cabelo moreno,
nuvem de verão.

Era leve,tinha no olhar aquele brilho,
o brilho de quem vê o mundo
como ele deve ser visto.
sutil, 
de riso frouxo,
peito aberto.

Sabia onde por as imagens,
sabia onde encontrar as palavras,
sabia entender um gesto.

Era cheio de certezas,
cheio de fineza,
aquele de quem sabe ser simples
no olhar.

Era um moço pernambucano
que vivia meio longe
e dizia no abraço
que sorria no retrato
que era moço que podia contar.

Mesmo que a distância
nunca permitiu esse abraço,
mas me diz,
que de fato,
não há lonjura
para quem sabe entender
quem é de verdade
em um olhar.

quarta-feira, janeiro 06, 2016

Queria querer

Queria o querer dos poetas da terra
da poesia do quintal,
da bruma dos sertões,
do gingado dos acordes.

A poesia de uma história antiga,
de um tempo sem malícia,
de uma ingenuidade
de pergunta de criança.

Queria querer saber compor
palavras do dia,
do mato,
da brasa fina.
Do querer querer mais do eu
mais do que meia dúzia de palavras
de concreto.

Queria a poesia dos tempos de areia,
da praia vazia,
do dia que é dia,
da noite de estrelas.

Queria querer dizer que me desfiz
do ardor,
da dor,
do andor
que é
a concretude da poesia
do meu eu
agora.

Queria querer voltar a ser livre,
livre de mim;
querer ser mais poesia
da significância emotiva
das coisas insignificantes.

Queria querer saber o que é
insignificância.
Não emprego,
não uso,
não sei.
Tudo significa demais
nos queres meus.

Queria o querer da poesia,
daquela que volte
a libertar,
a caminhar,
a lidar
com a poesia do eu.