domingo, outubro 19, 2014

Em mim




Era para ser um pouco meu. Mais meu do que seu. É, praticamente meu. Não em posse, mas em jeito. Se encaixa em todas as canções, o que se idealiza em todas as direções.
É um reflexo, o da janela no fim de tarde. Eis que nesse momento toca, aquela que te define. Em mim.
Nem ao vivo, nem à distância, em mim já és.

"Um dia eu vou ficar bem só pra te querer mais, onde quer que eu ande bem, domingo é pra te dar paz"...

Aquilo que só em mim se faz. Não assuste, não me assuste. Cada letra nesse branco, cada melodia nesse canto. 
Poesia de um domingo chuvoso. Versos de um acaso que procura encontro.
Em mim.


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Desenho: Laís J. Silva

quinta-feira, outubro 09, 2014

Esse texto não merece um título



Esse é um texto escrito com raiva. Não pelas palavras, mas pelo momento no qual estou escrevendo. Escrevo esse texto sob o efeito das piores sensações que já senti pelo ser humano: fúria e indignação. Não, não espere que eu lhe de o motivo, nem o causador de tal mal, pois não consigo reproduzir ato tão absurdo, nem falado, nem escrito. Usar do poder e da magia das palavras para reproduzir tal infâmia seria desonesto com o poder de cura que elas exercem sobre mim.
Esse é um texto que se tivesse gosto seria o mais amargo que você possa imaginar. Aquele gosto de cabo de guarda-chuva que você sente quando o mundo despenca. Meu mundo não despencou, mas uma boa parcela da esperança que eu tinha nele sim, talvez a mais bonita delas, a fé na humanidade. Este é um texto que se encaixa em qualquer momento em que você precise ocupar um espaço, porque, mesmo coberto de lacunas é melhor do que vê-lo em branco. Branca é a cor da paz que eu não sinto nesse momento.
Este é um texto escrito sob uma chuva de lágrimas. Frias e ao mesmo tempo quentes. Lágrimas de indignação, dor, raiva, vergonha. Esse é um texto que está sendo escrito, porque preciso manter minhas mãos ocupadas para não socar a parede, pois mesmo com todo o mal, prefiro a violência das palavras.
Esse é um texto que bem poderia conter uma porção de palavras de baixo escalão, mas já proferi todas elas através da fala. Deixo a escrita para que me acalme o coração e a alma. Não por agora, mas que me mantenha ao menos parada, pois rodar em círculos só me causou dor de cabeça.
Essas são palavras que escrevo com a minha cara mais enfurecida, com meu rosto já inchado de tanto chorar. Escrevo para deixar registrado que a crueldade do ser humano me revolta, em todos os seus aspectos. Mas contra os indefesos, ela me deixa possessa.
Esse é um texto que escrevo, porque não consegui manter minha cabeça no travesseiro e porque cavar um buraco no assoalho e me enterrar só me faria ter mais despesas do que consolo. E o consolo que encontro aqui, nem o mais acolhedor abraço pode me dar.
Esse texto é uma prece, pois peço perdão a quem quer que esteja me ouvindo por algo que não fiz, mas que tenho vergonha de saber que alguém fez. Esse é um pedido de socorro, porque preciso acordar desse pesadelo. Quem quer que seja que está aí, acenda a luz, pois desse escuro eu quero sair.
Esse texto é uma terapia, desenvolvida em doses homeopáticas de consoantes e vocais. Essas são palavras sobre um desespero, calculado pela raiva e por vezes pelo desprezo. Mas, principalmente pela impotência da minha distância e da de quem esteve presente.
No ardor desses maus sentimentos, busco aqui, folha em branco, o que ninguém pode me dar. Paz.