quinta-feira, outubro 09, 2014

Esse texto não merece um título



Esse é um texto escrito com raiva. Não pelas palavras, mas pelo momento no qual estou escrevendo. Escrevo esse texto sob o efeito das piores sensações que já senti pelo ser humano: fúria e indignação. Não, não espere que eu lhe de o motivo, nem o causador de tal mal, pois não consigo reproduzir ato tão absurdo, nem falado, nem escrito. Usar do poder e da magia das palavras para reproduzir tal infâmia seria desonesto com o poder de cura que elas exercem sobre mim.
Esse é um texto que se tivesse gosto seria o mais amargo que você possa imaginar. Aquele gosto de cabo de guarda-chuva que você sente quando o mundo despenca. Meu mundo não despencou, mas uma boa parcela da esperança que eu tinha nele sim, talvez a mais bonita delas, a fé na humanidade. Este é um texto que se encaixa em qualquer momento em que você precise ocupar um espaço, porque, mesmo coberto de lacunas é melhor do que vê-lo em branco. Branca é a cor da paz que eu não sinto nesse momento.
Este é um texto escrito sob uma chuva de lágrimas. Frias e ao mesmo tempo quentes. Lágrimas de indignação, dor, raiva, vergonha. Esse é um texto que está sendo escrito, porque preciso manter minhas mãos ocupadas para não socar a parede, pois mesmo com todo o mal, prefiro a violência das palavras.
Esse é um texto que bem poderia conter uma porção de palavras de baixo escalão, mas já proferi todas elas através da fala. Deixo a escrita para que me acalme o coração e a alma. Não por agora, mas que me mantenha ao menos parada, pois rodar em círculos só me causou dor de cabeça.
Essas são palavras que escrevo com a minha cara mais enfurecida, com meu rosto já inchado de tanto chorar. Escrevo para deixar registrado que a crueldade do ser humano me revolta, em todos os seus aspectos. Mas contra os indefesos, ela me deixa possessa.
Esse é um texto que escrevo, porque não consegui manter minha cabeça no travesseiro e porque cavar um buraco no assoalho e me enterrar só me faria ter mais despesas do que consolo. E o consolo que encontro aqui, nem o mais acolhedor abraço pode me dar.
Esse texto é uma prece, pois peço perdão a quem quer que esteja me ouvindo por algo que não fiz, mas que tenho vergonha de saber que alguém fez. Esse é um pedido de socorro, porque preciso acordar desse pesadelo. Quem quer que seja que está aí, acenda a luz, pois desse escuro eu quero sair.
Esse texto é uma terapia, desenvolvida em doses homeopáticas de consoantes e vocais. Essas são palavras sobre um desespero, calculado pela raiva e por vezes pelo desprezo. Mas, principalmente pela impotência da minha distância e da de quem esteve presente.
No ardor desses maus sentimentos, busco aqui, folha em branco, o que ninguém pode me dar. Paz.

Um comentário:

  1. A palavra, quando escrita, é a tinta-lágrima que fica.
    GK
    Obrigadíssimo por teu elogio ao meu blog!
    Tua presença lá é uma honra para mim!

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