sexta-feira, setembro 26, 2014

Vista-se de luz


Perca-se. Ás vezes é bom não encontrar sentido no sentido comum. 
Crio-me desses pequenos momentos de exatidão, regados ao som da insônia e ao doce gosto amargo da solidão.
Perca-se em si. Mova-se para dentro. O que os pés não sentem, o coração não anda.

Seu eu no outro



Reconheço todos os rostos que vejo na rua. Parece que cada um deles me foi apresentado em algum momento dessa vida. Talvez ontem, talvez hoje, ou no passado. Reconheço todas as faces, os olhares. Alguns me encaram como se também me reconhecessem, outros disfarçam, alguns nem notam.
Cruzo cada rosto na rua, no transporte, no trabalho, na mesa de bar, no reflexo de algum espelho, vitrine, vidro. Todos os rostos me são familiares. Talvez você espere que eu relate o que neles me atrai, mas não, apenas me sinto próxima. Sei que boa parte nunca ouvirá meu nome, escutará minha voz, ou me retribuirá um sorriso, uma gentileza. Apenas os observo, assim como prevejo o passar dos carros na grande avenida.
Um olhar é sempre único, uma desviada de cabeça é sempre única. Aquele que disfarça, ou aquele que corresponde, nenhum deles é igual. Nunca fui muito de encarar uma pessoa nos olhos por muito tempo, sempre perdi essa brincadeira na infância. Fixar um olhar pode te desnudar por completo. Mas quando fixo o olhar em um rosto desconhecido é como se para ele eu pudesse olhar fixamente. Sem piscar, sem pestanejar, mostrar que eu o reconheço. Simples, complexo, calmo, conturbado, sincero. Dessa forma os reconheço.
Todos os rostos que me são familiares são aqueles que me tornam uma incógnita para quem me conhece. Desnudam-me pelo simples fato de nem saberem meu nome, mas que me encararem fixamente no olhar. Sem deixar entreaberta a janela das aparências. Essa sou eu, esse é você. É por isso que os reconheço. É por isso que me são familiares.