segunda-feira, outubro 18, 2010

Silêncio

O escuro do quarto era intrigante, dentro do peito a sensação de um emaranhado de sentimentos e no corpo a sensação de três dias sem dormir. A escuridão conforta, mas engole. O som não era mais o mesmo. O barulho ensurdecedor das buzinas na rua em baixo sufocava. Nem o som do mar confortava.

Era mais uma noite densa. Todas as dúvidas e incertezas afloravam e os devaneios rotineiros se escondiam ao redor do quarto em uma espécie de brincadeira de mau gosto.
Mãos na cabeça, pés na parede, coração pulsante, olhos cravos no negro do teto.
- Por que voltou? - indagou ao vento.
- Achei que fosse pra sempre, adeus. Não volta mais. - respondeu o silêncio.
E o soar dos carros passando. O silêncio é eloquente.

domingo, outubro 17, 2010

Cheiro da manhã

Ao som do cantarolar de pássaros despertava de um pequeno cochilo matinal, não havia dormido quase nada. Era domingo. Todo fim de semana a alma pede um banho de mar, pede cabelos soltos ao vento.
A cortina balançava levemente na melodia da brisa, o barulho das crianças no quintal do vizinho não permitiam que se perdesse no tempo. Era fim de semana, era domingo.
Dois dias, apenas dois dias e parece que tudo que havia dado errado durante a semana não passava de uma velha pilha amarela de papéis em cima da mesa prontos para serem descartados. É tão fácil.
Depois de voltar de uma longa conversa de mesa de bar tentara dormir, o corpo pedia um breve alento, pois sabia que ainda teria mais um dia. Às quatro da manhã, sentado a beira da cama. Olhando para os pés sempre dizia 'É tão fácil' e ia até a janela esperar o sol.
Ao primeiro raiar um sorriso surge. O cansaço se esvai e inflama uma alegria irradiante por dentro do peito. Ao som dos pássaros, a sensação da brisa bagunçando os cabelos. Era domingo, mas não um domingo qualquer.
Abre o armário dá uma olhada por cima das roupas, escolhe um chapéu, uma camisa branca. E dá o primeiro passo para enfrentá-lo. (...)

quinta-feira, outubro 14, 2010

Tropa de Elite

O melhor filme do ano estreou sexta-feira passada nas telonas do Brasil. Tropa de Elite 2 é sem nenhuma sombra de dúvida o melhor filme do ano. Além de trazer um Wagner Moura acima de todas as expectativas trouxe em um momento crucial para o país um dos temas mais importantes da atualidade, a podridão do sistema.
Depois de um alucinante primeiro filme recheado de cenas de ação e frases que até hoje escutamos pelas ruas, José Padilha surge com mais um soco de consciência ao abordar a corrupção dentro da segurança das cidades, dentro da nossa política. Destacar os pontos altos do filme se torna um tanto quanto complicado, devido ao fato de mesmo com menos ação é quase impossível piscar durante o filme. Todo o diálogo do Capitão Nascimento que sobe de cargo, e sai das ruas, para se embrenhar de terno e gravata dentro do sistema te forçar a abrir os olhos para tanta corrupção e impunidade.
Meu maior lamento foi o filme não ter estreado antes das eleições, confesso que isso me intriga muito, pois alguma diferença iria fazer nas pessoas, visto que as lotações máximas de todas as salas e os aplausos no final do filme foram tão evidentes. Uma pena.
Infelizmente não temos tantos Nascimentos pelo Brasil que tenham coragem de jogar toda a lama no ventilador e aqueles que buscam as mudanças não tenham se elegido. Confesso que o comentário é sobre a qualidade do filme, a sua trama bem armada, seus atores, sua direção impecável, mas também é um misto de vergonha e desgosto devido ao resultado das últimas eleições. Porém, não motivo de abandono, de descrença. Não acomodar com o que incomoda nunca.
Não precisamos de tiros e mortes, precisamos de consciência e vontade. Mais Nascimentos como pais, menos Nascimentos capitães, mais justiça, menos corrupção.
O sistema fede, não pise mais nele.






Recomendo.