terça-feira, agosto 30, 2011

Escadas

- Segundo alguns dicionários que já li por aí existem certas palavras que os significados são mutáveis. Não sei o quanto isso interessa nos dias de hoje já que o imutável é passivo de erros. Todas as coisas que se transformam são positivas, mas nem sempre são levadas a sério. Eu mesma escrevendo semana passada citei dois autores que nunca imaginem dizendo coisas que disseram há uns anos atrás.
- Nunca acreditei nessa ideia de que mudar pode ser tão positivo. É tudo relativo demais para ser sempre coisa boa. Respondeu ele esticando os pés sobre a cadeira ao lado.
- Pode até ser, mas se você reparar bem quase tudo que se expande se estende ou se contrai troca o tom. E olhe que nós nem chegamos a falar de música ainda - disse ela sorrindo.
Ele olhou ao redor e lembrou-se de uma frase que sua avó que sempre dizia em sua infância.
- 'Se eu soubesse que o céu era tão perto, não havia comprado escadas tão longas' - repetiu suas lembranças ao vento.
Ela ponderou, olhou e sorriu como se aquelas pequenas palavras fossem a maior solução dos últimos tempos. Contemplou o céu e disse:
- Hoje parece distante.
- Sempre foi - ele olhou para cima e viu um pássaro - mas sempre existem aqueles que podem voar.
Permaneceram no jardim a tarde de domingo toda, ela reunindo pequenas frases, flores e gestos em seu caderno. Ele contemplando nostalgias sentimentalóides que só os dois conseguiam ver. 

segunda-feira, agosto 22, 2011

Essa tal de vida

-Essa tal de vida me deixa encontrar vestígios da pequena solidão do meu tempo. Eu passo os dias vivendo as horas com suas datas marcadas, seus compromissos fixos, seu calendário egoísta. Faço contas para não me atrasar, pago as contas atrasadas, deixo sempre para outro dia trocar a lâmpada da varanda. Talvez seja porque eu prefira a luz do sol entrando lá todo dia, talvez seja porque eu não  acho esse tal de tempo no meu dia para pequenos afazeres.
Não preciso de ninguém ditando minhas horas, controlando meus horários, essa tal de vida faz isso por mim. Horário de chegar, de sair. Prefiro a confusão que sou, pena que ela nunca se imponha. Faço promessas ao relógio, mas meu tempo se confunde com o dele. Essa tal de vida é um despertador desfigurado que sempre toca uma hora antes do que deveria, mas que nunca se atrasa, nem pára.
Espero terminar meu capítulo antes que comecem a me regular, antes que eu comece a me regular. Queria saber contar coisas sobre a vida das pessoas em que o tempo não fosse necessário, mas é tão difícil. Ele é a única certeza que temos de que essa tal de vida segue e corre na maioria das vezes, mesmo quando você praticamente implora para ela ir mais devagar.

Repousou a caneca sobre a mesa e respirou profundamente.

-Não preciso dele. Necessito dele. Responsável pela chegada dos meus cabelos brancos, pela minha constante olheira matinal. Essa tal de vida desconta esse não querer de queres do correr das horas em tardes de domingo regadas a azedumes e filmes burocráticos sobre vidas com céu azul e finais felizes. Balela!

Deu uma leve olhada no jornal de dois dias atrás e permaneceu no jardim o dia todo só para contrariar sua agenda e teimar ser independente dessa tal de vida.

terça-feira, agosto 16, 2011




"Eu não escrevo pra ninguém e nem pra fazer música
E nem pra preencher o branco dessa página linda
Eu me entendo escrevendo
E vejo tudo sem vaidade
Só tem eu e esse branco
Ele me mostra o que eu não sei
E me faz ver o que não tem palavras
Por mais que eu tente são só palavras
Por mais que eu me mate são só palavras
Eu não escrevo pra ninguém e nem pra fazer música
E nem pra preencher o branco dessa página linda
Eu me entendo escrevendo
E vejo tudo sem vaidade
Só tem eu e esse branco
Ele me mostra o que eu não sei
E me faz ver o que não tem palavras
Por mais que eu tente são só palavras
Por mais que eu me mate são só palavras
Eu me entendo escrevendo
E vejo tudo sem vaidade
Só tem eu e esse branco
Ele me mostra o que eu não sei
E me faz ver o que não tem palavras
Por mais que eu tente são só palavras
Por mais que eu me mate são só palavras
Só palavras
Só palavras..."

Branco

Criar, criar, criar e a falsa realidade que uma folha em branco proporciona. Captar frases soltas e salvá-las no celular são o que me resta quando as imensidões se achegam em mim nos piores momentos. Se três frases não são suficientes prefiro recortar as novas imagens que sempre estão aqui. O paradoxo que meus alter egos estão imersos é o pior dos últimos tempos. Saiam dessa inercia do poder pretender entender o que querer que isso não fará chover. Viram? Está um caco.
Voltarei a folha em branco. Paulo e Ana, ou seja lá quem agora são, aguardem.

domingo, agosto 14, 2011

Hoje acordei sorrindo

Quando eu começar uma frase coberta de todo o sentir, ao fundo tocará uma voz. E essa voz que soa como um boa mensagem solta no vento, espalhada por todas as ondas que souberem captá-la. Um momento de alegria surgiu com uns dos sorrisos mais sinceros que dei na vida, confesso que espero que ninguém tenha visto, pois são esses sorrisos que transparecem o seu ser e nem todos podem conhecê-lo.
São momentos assim que fazem com que eu me inspire e possa demonstrar o melhor de mim, até me recordo de que quando meu espelho me questiona sobre qual meu defeito incorrigível, eu respondo que é sonhar demais, manter sempre os pés  fora do chão, ele sorri e responde: essa também é sua melhor qualidade. Porém, alimentar esses sonhos não é tão fácil quanto parece, precisa de muita lenha, de uma pitada boa de inspiração e pessoas que me façam experimentar tudo que a vida pode me proporcionar. E se existisse uma lista com esses momentos tenho certeza que ela será embalada pela voz que me fez sorrir. 
Não sou tão boa com as palavras ditas, mas sei falar com as palavras escritas. Mais do que isso, sei captar o som que me fez chorar de alegria como nunca antes. E só tenho a dizer que um abraço pode reunir tudo que sentimos em apenas alguns segundos e as lágrimas que enxuguei no final foram um misto de saudade antecipada com certeza de que a felicidade vai cruzar seu caminho. E quero aplaudir de pé lá no final do túnel.
Um passarinhos sobrevoa sob minha cabeça e ele vai partir daqui um tempo levando com ele um pedaço do meu melhor sorriso, mas ele volta e esse é a data que já marquei na memória como um alento. E se soubesse o quanto é difícil para mim falar abertamente assim do meu eu, teria certeza que ainda estou com o sorriso bobo de alegria e orgulho estampado no rosto e que vale a pena me escancarar para dizer o quanto importante é. Voz vai ser feliz, mas não se cale nunca, por mim e por você.

terça-feira, agosto 02, 2011

Reunião da desunião de um ser


Troca-se a fase. Troca-se a cor. Um envolvimento dos dizeres que ficam por ser ditos pendurados ao rodapé. Vão-se os meses. Deixam-se sonhos. Curva-se. Aglomerados de garrafas abertas. Rios que se secam. Tons de cinza. Ronda, rezas e rumos. Pés, chão, poeira. Pano, sujeira, pedras. Partir.
Tons de preto. Cruzes, tesouros, mapas. Sai o destino, entra a coragem. Era terça, feira, fato, feitos. Figas, digas, mintas. Progrida, prossiga, remende. Deite, olhe, cegueira.
Aos três trilhões de segundos que deixei, um cego, surdo, mudo rondei. Um céu mudou de cor e um se perdeu. Choveu.
Era sem fim. Pequenas, tortas, miúdas. Espremidas, contidas, diminuídas. Contos, pontos, pedaços. Dedos, anéis, sossegos.
Engolido pelo tempo surge o indefinido. Limitar-se é a liberdade que consome a nossa expressão. Não existe sossego, só prisão. O céu é desapego sem comunhão e a transgressão não divide mais seu pão. Rumos, rondas e rezas. Um sentido de quem lê, outro de quem vê, mas nenhum de quem não sente.

segunda-feira, agosto 01, 2011

Conversas que não são jogadas fora

-Ao conto de fadas eu reservo meu alento. Foi com ele que descobri o prazer de mergulhar em um novo mundo e recriá-lo dentro de mim, a imaginação é a porta de entrada para tudo que já construí na vida. E eu ainda tenho muitas portas para abrir. Mas você sabe que tudo que já vivi nesse meu universo paralelo de imensidões mutáveis e intensidades instantâneas também me levou a descrer e crer em coisas que nunca tive acesso. E não me refiro a nada que me seja de valor, mas sim pequenos sonhos frustados atrás de papéis. Muitos deles já amarelos naquelas tarde quentes e úmidas no sebo do meu avô. Olhou ao redor e mexeu nas orelhas das folhas sobre a mesa. - Tudo que aprendi foi ali, um pouco na rua, a mesa de bar também é uma grande escola. Tudo que não vivi também foi ali e é isso que me preocupa.
Mexeu nas folhas que estavam na mesa e organizou daquela maneira frenética de quando estava nervosa. Ele observou suas mãos trêmulas e segurou-as com leveza. Trocaram um olhar de cumplicidade. A confirmação estava por vir.
Um belo dia acordo e percebo que nasci no lugar errado, talvez até na época errada. E isso não é mais um lamento de alguém que contesta seu tempo, muito pelo contrário. Esse é um lamento de quem não absorveu direito as inúmeras possibilidades de raízes que me cabem. Minha raiz maior é do interior, mas não sei se me completa por inteiro. 'Queria ser navegador...' 
Acho que nasci no Estado errado e essa é minha maior certeza. Tenho um pé em cada canto desse país, uma fala de cada cultura e isso é o que eu mais gosto em mim mesma, poder ser um pedaço de tudo. 
Um dia vou sair por aí a procura da minha certeza maior...caminhar em cada canto de cada estrada desse mundo gigante que se chama Brasil. 

"Queria ser navegador
Nesse teu mundo estelar
Lua que amansa meu desejo
Estrela azul, me leva"