sábado, dezembro 24, 2016

Amar

O amor é uma equação matemática com resolução exata dentro da taxa de certezas de não existir exatidão.
O tempo é o limite do caos. Do eu, do nosso amor. O amor ao universo, as conspirações das estrelas e ao sopro de certezas do destino. Sincronicidade.
O momento exato em que o amor se torna uma conta perfeita baseada em sua realidade inexistente.
Amar é a certeza de não haver resoluções aparentes para problemas antigos. Muito antigos. Do tempo em que amar era o próprio tempo.
Amar é a mistura entre o universo e nossa órbita interior.
Amar é sonhar dentro da ilusão e trafegar pelas curvas suaves e profundas que contornam a exatidão de permear a dor por um único momento de eternidade.

domingo, setembro 11, 2016

Seca

Seca.

O riso não vem mais frouxo
feito a água que corria
lentamente fazendo cócegas na terra.

Os olhos não tem mais cor
feito a flor que ali brotava
e inundava esse canteiro de amor.

O rosto não transparece mais paz
feito a sombra certeira que alivia o ardor do sol.

Secou o amor, a paz, choro, sorriso.
Secou a fonte da alegria ligeira,
da plenitude do olhar.

Secou o amor,
a vontade,
a esperança.

Restou amargura,
o gosto do nada,
a folha em brancura.

Cessou o sorriso,
a sombra certeira,
o gosto de paz,
o amor que não mais se refaz.

Secou.

segunda-feira, julho 11, 2016


O amor ele me fez mais mal do que bem. Ele me iludiu mais do que me fez feliz, ele me levou mais lágrimas de tristeza do que de alegria. Ele me emocionou mais do que me tocou. Ele me agrediu mais do que me deu amor.
O amor deu a falsa ilusão de importância que só existia do meu lado. Ele criou uma falsa sensação de estabilidade que nunca provei.

Foi um tudo que no fim se tornou um nada e hoje míngua pouco a pouco nessa imensidão de intensidades que vivem em mim. Mas do amor só sobrou carcaça, uma tampa amassada, um coração quebrado e uma história friamente fracassada para contar.
Amei a pessoa errada na hora certa e gastei minha ficha derradeira de amor verdadeiro. E fim.

quarta-feira, junho 22, 2016

Pulso

Foto: Alessandra Lemos

Bate a hora no relógio
pulsa o tempo
empurra o vento.
vai 
   e vem 
        do ponteiro.

Pulsa o instante
               quase sempre
pulsa o tempo, 
              sem medos.

Pulsante..feito o tic tac,
feito o frio que bate,
e o tempo rebate.

Pulsa
repulsa
expulsa.
Tic... 
      tac.

Pulso bate
pulsante, 
rebate.

Feito o tempo
precioso
ocioso
desse tic tac
pulsante.

sábado, abril 23, 2016

Crônica de um dia feliz



Dias felizes começam com choro. Com lágrimas que caem sem motivo aparente, sem sentido comum. Pareciam lágrimas de uma derrota eminente. Não foram. Parecia premonição para o resto do dia.
As lágrimas eram de realidade, da vida dura que bate a porta da maioridade. Porém, o doce encanto do sonho ainda percorre uma cabeça que sempre viveu rodeada de nuvens.
E não demorou muito para elas aparecerem. O melhor despertar é o despertar e ver um bocado de letras que formam as já duas costumeiras palavras que unidas formam o nome. E quase sempre esse emaranhado de letras que tentam se juntar na visão meio embaçada pelo despertar, meio míope pela condição genética, trazem consigo o primeiro esboço de um sorriso.
O dia se percorre quase lento, vem os planos, as rotas de dias futuros, as esperanças de momentos marcantes, os esboços de fotografias que nem se tornaram reais ainda. E com isso vem outro sorriso.
A burocracia entra em campo e faz recordar sobre a realidade que a maioridade impõe, mas algumas vezes ela é positiva. E lá vem o terceiro sorriso.
Com a tarde quente, vem as conversas engraçadas da vida no campo, uma avó seminua gargalha com o susto que tomara a instantes . E lá se vem a primeira gargalhada.
A volta pra casa, as pernas para o ar, retorno atenção ao que toma meu ar, ao plano de outrora ao futuro de agora. A vitória eminente de ver o sorriso estampado no rosto de quem está longe, mas perto o bastante para ser sentido mesmo distante. Lá se vem a segunda gargalhada.
No resto do dia, o fim de tarde, o céu troca de cor, do azul vem o amarelado, o laranja e o rosado. A lua reina no céu estrelado. E nem a figura vista em tela de alguém que ressurge e talvez te leve, mas que nunca saberá o que pode tornar teu sorriso mais leve. E lá se vem a certeza de que a realidade amadureceu, mas que não se escondeu.
A noite tranquila traz o som da saudade, aproxima de novo uma bela amizade que uma distância, bem boba, quase criança, separou por um tempo. E lá se vem o sincero sorriso de alívio.
O dia se acaba e vem quase em graça. Cabeça refeita, travesseiro macio, sem peso nas pernas, costas. O dia termina em um breve sorriso. O sono mansinho se achega quietinho, me pega serena, cabeça em nuvens. Durmo sorrindo.

domingo, abril 10, 2016

Saudades de mim



Andei recolhendo inúmeras saudades. De tempos de outrora, de dias lá fora.
Saudades dos repentes que eu fazia na mente, dos caminhos de chão batido que eu pensava em trilhar.Dos livros esquecidos em cada sebo que prometi voltar. Saudades das inúmeras mesas de bar que deixei conversas picadas, dos planos mirabolantes das conversas de rodas de calçada.
Dos tempos em que havia tempo para ver um sarau. Para recitar poesia na casa do Andrade, o Mário.
Saudades de uma essência distante que deixei escapar por muitos instantes.
Saudades de ter tempo para ser somente o que bastava em mim.
Saudades de pertencer só a mim e aos meus sonhos meticulosamente mirabolantes, mas que me resumiam em tudo.
Saudades de ser quem eu sou.

domingo, janeiro 24, 2016

Peito aberto

                                                                   Foto: Miguel Solano




Era um moço doce,
doce feito o céu.
Olhos castanhos,
enrolado, 
cabelo moreno,
nuvem de verão.

Era leve,tinha no olhar aquele brilho,
o brilho de quem vê o mundo
como ele deve ser visto.
sutil, 
de riso frouxo,
peito aberto.

Sabia onde por as imagens,
sabia onde encontrar as palavras,
sabia entender um gesto.

Era cheio de certezas,
cheio de fineza,
aquele de quem sabe ser simples
no olhar.

Era um moço pernambucano
que vivia meio longe
e dizia no abraço
que sorria no retrato
que era moço que podia contar.

Mesmo que a distância
nunca permitiu esse abraço,
mas me diz,
que de fato,
não há lonjura
para quem sabe entender
quem é de verdade
em um olhar.