quarta-feira, agosto 04, 2010

Uma Noite em 67

Bom dia. Ontem fui assistir o documentário 'Uma Noite em 67' direção de Renato Terra e Ricardo Calil.
Em uma sala quase vazia, também pudera eram duas da tarde de uma terça-feira, estava eu sentada esperando para ver um dos filmes que retratariam um pedaço importante da História da Música Popular Brasileira. Já de início você se surpreenderia com as imagens da música que seria naquele ano campeão do festival, “Ponteio” de Edu Lobo, uma música de arrepiar que ainda ouço ecoando pela sala escura.
O documentário reuniu os maiores talentos do período, os cinco ganhadores, com entrevistas emocionantes e que muitas vezes retratam um passado no qual a vida não era tão fácil para a música. Não é nem necessário comentar o motivo disso a data no nome do filme já diz tudo.
De Gilberto Gil, passando por Caetano, Chico, Edu, Mutantes, MPB 4, Roberto Carlos e Sérgio Ricardo, além de depoimentos dos criadores e produtores do festival. Só por esses nomes você já poderia sair de casa para acompanhar o filme, porém o ingresso vale muito mais pelo conjunto da obra, as imagens são sensacionais.
O público é a personagem principal do filme, sua presença, sua participação e seu envolvimento com os festivais são extremamente chocantes para quem, como eu, não vivi a época. Você que está acostumado a ver platéias sem ação, aplaudindo somente quando ordenadas em programas de auditório, saiba que naquela época não era assim, o público encontrava nesses festivais lacunas para expressar seus sentimentos e angústias. A música revoluciona e muito.
Ao som de "Roda Viva" de Chico Buarque e o MPB 4 você se sente sentado naquela platéia aplaudindo um rapaz de smoking e mil idéias na cabeça que hoje em dia mal sabe terminar de cantar a própria música. Senti o Chico totalmente modificado nos depoimentos, mas também pudera isso já faz anos e ele mudou muito. Mas vi um Caetano Veloso com o brilho nos olhos como se estivesse ali cantando "Alegria, Alegria" na frente do entrevistador, mesmo sem lembrar os acordes no violão. Já Gilberto Gil via aquela época como o início do processo que o transformou no que ele é hoje com sua música, mesmo tendo sido carregado para participar do festival.
Sérgio Ricardo talvez seja o momento de maior polêmica do momento, ao ser vaiado pela platéia perde a paciência e não consegue concluir sua canção, quebrando seu violão e atirando-o ao público, você já deve ter visto isso antes.
Roberto Carlos e sua cabeleira cantando um samba é algo totalmente inovador para quem só o vê nos programas de finais de ano da Globo, agora sei o porque minha mãe adora tanto ele, era um galã na época, e prepare-se, você não vai estranhar de ouvi-lo interpretando um samba.
Ao final sair ao som de "Ponteio" de Edu Lobo, nos faz sentir o êxtase da platéia e viver dentro de um dos períodos históricos brasileiros mais intensos, através da música. Alguém que não viveu aquela época, como eu, sente-se presente nesse momento e mesmo sem saber o que é viver uma repressão política, sabe que a importância da música para os brasileiros é enorme. Ao mesmo tempo me sinto na obrigação de lamentar nossa geração por não conhecer a História da nossa cultura. A Música revoluciona, mesmo.


“É naquele momento que o Tropicalismo explode, a MPB racha, Caetano e Gil se tornam ídolos instantâneos, e se confrontam as diversas correntes musicais e políticas da época”, resume o produtor musical, escritor e compositor Nelson Motta. O Festival de 1967 teve o seu ápice naquela noite. Uma noite que se notabilizou não só pelas revoluções artísticas, mas também por alguns dramas bem peculiares, em um período de grandes tensões e expectativas. Foi naquele dia, por exemplo, que Sérgio Ricardo selou seu destino artístico ao quebrar o violão e atirá-lo à platéia depois de ser duramente vaiado pela canção “Beto Bom de Bola”.

Recomendo esse mergulho no universo do final dos anos 60.


Um comentário:

  1. Nossa Thássia, que lindo! Prometi a mim mesmo que só iria comentar aqui depois que visse o documentário, mas não pude resistir. Vou assistir o documentário cheia de expectativas (olha a sua responsabilidade!rsrs)
    PS-Vou indicar o texto a uma amiga que vai assitir o documentário comigo ela tem correndo na veia o bom gosto, como nós.
    Beijos e parabéns mais uma vez!

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