sexta-feira, julho 22, 2011

Aos porcos, as flores artificiais

O ponto de interseção que te liga ao seu eu é tão denso quanto a curva retilínea do seu destino. Pregado a você existem pontos, voltas, somas e espaços.
Se sentia como um papel em branco prestes a ser demarcado, rotulado, manchado, traçado. Não por suas mãos, mas com as de quem a engolem. 
O peso do tempo já não é mais um preocupação estética, mas de essência. Carregar toneladas de frustrações e colocá-las em pequenas estórias hipócritas já não era um prazer como antes. Sentia vontade de cuspir nos que a prendiam na gaiola dos sonhos roubados, inventados, difamados, atormentados. 
Um passo adiante tão curto e tão distante quanto uma caminhada de dias na floresta. Preferia se conter, se manter, se conhecer. Aos 28 e não possuía autocontrole emocional. Já dizia o poeta ' a vida é uma intenso conhecer de si mesmo'. E quem era a vida? E conhecer a quem? Procurar o que? A dúvida e as incertezas são consumíveis até os dentes. Não existem certezas. E essa busca já não interessava mais.
Olhou pela janela e viu as primeiras gotas de chuva escorrerem pelo vidro, a tarde quente de verão e a janela fechada. Abafava seus sentimentos como se cozinhasse aquele prato preferido dele. O telefone não tocou aquela tarde, nem pela manhã. A noite precisava de um convite ao som ora perturbador daquela máquina com números, ora vital em dias em que a escuridão não seria remédio e sim veneno.

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