terça-feira, novembro 09, 2010

Árvores

Sentado na janela de um ônibus, observando os carros passar Paulo encontrava vestígios de um falso companheirismo cotidiano. A imensidão de pessoas na rua iludia os mais ingênuos sobre sua solidão. Reparando no passo apressado de cada uma delas, as suas infindáveis conversas ao telefone, ao seu olha vago nas calças, ao som perdido do trânsito.Virou-se para a pessoa que estava ao seu lado e perguntou:
_ Essa cidade é cheia demais – olhando fixamente para o velho senhor que distraído tinha se assustado com a súbita indagação.
_ Eu sei, meu filho, mas cada pessoa que passa por essas ruas tem uma história, tem uma vida – respondeu o senhor.
Paulo, novamente observou através da janela e disse:
_ Essas pessoas são solitárias. – resmungou baixinho fazendo com que o velho senhor fizesse um grande esforço para escutá-lo.
_ Ao que me consta, dizia através da janela do ônibus, a solidão de uma metrópole é uma pequena árvore que resiste ao fim da rua.
Paulo se confundiu com essa resposta, mas sorrio para o velho senhor que parecia satisfeito de ter tido essa breve conversa.
Descendo na rua de sua casa reparou nas árvores ao redor e sentiu que a brisa do mar estava novamente chamando por ele, como se o convidasse para um passeio pelos seus cabelos. Não resistiu e foi conferir qual era essa nova sensação que vinha daquela brisa.
Cada novo passo em direção ao mar significava uma nova experiência, uma nova sensação. Perto de sua pedra favorita ao canto da praia, sentou-se e mesmo com um sol que insistia em lembrar que a perda de seu chapéu era extremamente significante quando ele estava presente.
O diálogo com o velho senhor havia posto mais dúvidas na cabeça de Paulo. Vivia em uma cidade enorme, com milhares de pessoas, muitas vidas e muitas boas histórias para contar, mas insistia na convicção de que a maioria delas era solitária. Não sabia ao certo o que lhe proporcionava tamanha certeza, pois não as conhecia pessoalmente.
A brisa costumeira o fazia fechar os olhos cada vez que ganhava uma nova força. Um esboço de sorriso surgiu em seus lábios e fechando os olhos sentiu o cheiro daquele perfume que havia lhe tirado o sono. Um cheiro novo, mas que parecia tão presente.

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